Eles apontam que durante o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19 foram tratados como heróis, mas que agora falta empatia dos clientes.
Os motoboys se arriscam no trânsito todos os dias para entregar medicamentos, alimentação, documentos e outros produtos. A categoria afirma que são muitas as ocasiões de desrespeito. Isso acontece principalmente em condomínios, onde a entrega termina na portaria.
Felipe Guimarães é diretor da Associação dos Motoboys de Mogi das Cruzes e trabalha com a motocicleta faz 10 anos. Nesse período todo, ele conta que as agressões principalmente as verbais acontecem com frequência. “Foi em uma avenida do Centro, uma avenida de duas faixas. Eu parei do lado direito para entregar, chegou um rapaz que morava do outro lado da rua , na outra esquina. E ele e a esposa começaram um xingamento dizendo que eu estava atrapalhando a via. Era duas vias e eu tinha que parar ali não tinha como, eu estavam com um cliente. E a todo momento ele xingou, quis vir para cima. E eu simplesmente falava para ele não encostar que se ele encostasse em mim eu ia me defender por ser um rapaz de 40, 50 anos e graças a Deus não passou disso.”
Apesar dele não ter feito boletim de ocorrência, a Polícia Militar precisou intervir na situação. Guimarães afirma que a situação piorou com os aplicativos de entrega. “Ele não dava um parecer para o cliente que o motoboy não tem obrigação de subir. Não dava parecer para o cliente descer e pegar a entrega. O cliente não sabe diferenciar o motoboy do aplicativo do motoboy fixo. Acaba não tendo culpa o cliente.”
O Brasil tem atualmente mais de 1,5 milhão de pessoas trabalhando como motoristas ou entregadores de aplicativos segundo o levantamento do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e a Associação de Mobilidade e Tecnologia. Se durante a pandemia esses profissionais foram tão elogiados, hoje eles dizem que falta paciência e reconhecimento. “O pessoal dava até chocolate agradecia e falava que a gente era herói, mas agora todo mundo esqueceu. Acho que o pessoal via que a gente era a única solução. Ninguém queria ficar na rua e meter as caras e a gente não tinha o que fazer”, avalia o motoboy Felipe Medeiros.
Esse não é o emprego fixo do Medeiros. Ele que também é motoboy realiza entregas durante a noite para complementar a renda. Essas situações nas entregas o deixaram desmotivado com a profissão. Já Andréia Oliveira Brito se dedica às entregas como motogirl. As entregas são feitas por toda a cidade por uma empresa que contratou o serviço dela. Ela conta que foram muitas situações de desrespeito, principalmente, para quem trabalha com entregas por aplicativo. “Eu tenho contato direto com o cliente. Os meus clientes são pessoais e particular e o aplicativo já não. Quem dá o respaldo para o entregador é o aplicativo. Então quem vai defender o entregador? Ninguém.”
O trabalho costuma ser estressante e agitado, um gesto de empatia faz toda a diferença pra esses profissionais que salvam o tempo e a fome de muita gente. “O mundo tá muito nervoso. O pessoal não tem paciência. Às vezes de você buzinar na casa do cliente, o cliente acha ruim, mas nós somos motoboys. A gente trabalha com a moto, o nosso meio de comunicação com o cliente é a buzina. Se não for a buzina e a casa não tem uma campainha a gente não tem outro meio.” Guimarães
A entregadora Andréia destaca que é preciso ter agilidade nas entregas, mas o cliente precisa ajudar. “Eles deixam a gente esperando por minutos e mais minutos. E no nosso trabalho a gente corre com o tempo que muitos ganham por entrega. E empatia zero, se está chovendo, se está frio, se tá calor, se tá muito sol. Eles não se preocupam realmente com o tempo que a gente está lá esperando.”