Tráfego pela pista ficou totalmente bloqueado de 19 de fevereiro a 7 de março, depois que tempestades contribuíram para que o asfalto cedesse. Segundo especialista, via carrega histórico de insegurança durante períodos chuvosos e merece olhar cuidadoso do Estado.
A interdição registrada na Rodovia Mogi-Bertioga (SP-098) no primeiro trimestre de 2023 foi a maior em 15 anos.
Foram 16 dias de bloqueio total a partir de 19 de fevereiro, quando tempestades levaram a estragos na pista. Com o rompimento de uma tubulação, o asfalto cedeu na altura do km 82, trecho de Biritiba-Mirim, e uma cratera se abriu.
O levantamento ainda mostra que a via registrou cinco interdições totais, com ao menos dois dias de duração, em pouco mais de duas décadas. Todas apresentam características em comum, como a época do ano e os trechos afetados.
De acordo com o geólogo Silvio Pomaro, a insegurança na via é um problema que se agrava nos dias mais chuvosos e que requer atenção, especificamente nas manutenções preventivas. De acordo com o Governo do Estado, cerca de R$ 2 milhões são investidos anualmente neste tipo de trabalho.
Interdição em 2023
Embora o trânsito tenha sido liberado no dia 7 de março, a via segue em obras desde o dia 20 de fevereiro. De acordo com o DER, a expectativa é que os trabalhos sejam concluídos em agosto (duração de 180 dias) e custem R$ 9,4 milhões para o Governo Estadual.
Ainda de acordo com o DER, atualmente há uma faixa para descida (sentido Mogi das Cruzes/Bertioga) e outra para subida (Bertioga/Mogi das Cruzes), sendo que a adicional, na subida do trecho de serra, continua interditada.
Após a conclusão das obras, essa faixa deve ser reaberta. Até abril, o departamento realizava a instalação de muretas de concreto do km 82 ao 87, além da finalização do projeto executivo da cortina de concreto do 82.
Segundo dados enviados pelo DER, entre 2000 e 2023, a via registrou cinco interdições. Juntas, totalizam 28 dias. Até então, a mais longa era a de 2019, com 15 dias de duração, seguida pela de 2018 (veja a tabela acima).
Todas ocorreram entre os meses que, historicamente, são os mais chuvosos do ano: dezembro, janeiro, fevereiro e março. Outro ponto que chama atenção é que em quatro das cinco ocorrências houve interdição no km 82.
Para o geólogo Silvio Pomaro, os dados refletem uma preocupação antiga. “Um dos principais problemas da rodovia, hoje e sempre, é a insegurança nesse período de chuva, que coincide bastante com o período de férias, quando todo mundo quer descer pro litoral”.
Morador de Mogi das Cruzes, o especialista aponta as interdições, que atingem sempre a mesma época do ano e afetam os mesmos trechos, como uma consequência da construção em encostas. Algo que, segundo ele, não será solucionado com medidas paliativas.
“A topografia, pouca espessura de solo… Em termos geológicos, atravessar uma serra dessa é uma questão bastante delicada. Tem que ter um acompanhamento muito severo em todos os aspectos, do início ao fim da rodovia. Em todo o período da existência dessa rodovia”.
“Não é simplesmente fazer um muro [de contenção] e pronto. É fazer as manutenções, as questões corretivas, questões preventivas. É liberar áreas de acúmulo de sedimento, áreas de acúmulo de vegetação. Esse monitoramento tem que ser feito”, completa.
Manutenções e nova rodovia
O geólogo elencou uma série de ações que poderiam garantir mais segurança aos motoristas. No topo da lista estão as manutenção e o acompanhamento constantes. Algo que, segundo ele, deixou de ser feito por muito tempo e que trouxe consequências na degradação e no desequilíbrio geotécnico.
“Não é simplesmente fazer. Lógico que, fazendo, tomando as atitudes de construir muro, a gente vai preservando, mas são questões que se você não tiver um monitoramento por trás e um acompanhamento tecnológico, instalações de equipamentos e tudo mais”, pontua.
Mesmo assim, Pomaro defende que a região receba uma rodovia totalmente nova, projetada para respeitar o meio ambiente, sem causar danos à vegetação ou provocar o afogamento de nascentes. Apesar do alto investimento, essa seria uma solução definitiva e com poucos gastos a longo prazo.
“A gente não pode ficar pensando em viver remediando uma situação, mas sim que tem que dar uma alternativa pra ela. Eu, como geólogo e técnico da área penso: a solução ali seria uma nova rodovia com túneis, viadutos, para sair dessas encostas, pra sair dessa quantidade de águas que a gente tem e, principalmente, preservar o meio ambiente”.
“É fazer outra rodovia. ‘Ah, vai custar, vai encarecer’. Pode ser que sim, desde que a gente tenha bom projeto e faça uma coisa definitiva pro resto da vida. É o que a população está precisando, que o município está precisando. É o que a gente precisa, de fato, pra ter mais segurança nessa rodovia”.
O que diz o Governo do Estado
Questionado sobre o assunto, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) informou que o monitoramento da rodovia é realizado por meio dos Veículos de Apoio da Unidade Básica de Atendimento de Mogi das Cruzes, que realiza inspeções 24 horas por dia, todos os dias da semana, inclusive sábados, domingos e feriados. “Em caso de qualquer problema, a mesma de imediato toma as devidas providências”.