Um espaço de convergência e diálogo entre as mais variadas crenças, religiões e expressões daquilo que é considerado sagrado, em um ambiente ao ar livre, aberto a todos os públicos. Esta é a proposta do Parque das Religiões, um centro cultural que vai fazer parte das opções de turismo e lazer da Cidade Alta de Olinda.
A iniciativa é fruto de parceria entre os Franciscanos, Universidade Católica de Pernambuco e Parque das Religiões, entidade da sociedade civil que reúne cientistas, intelectuais, professores, pesquisadores e pessoas de diferentes credos e profissões dedicadas à extensão e a atividades práticas dos estudos da religião.
Representantes das instituições parceiras do projeto estiveram entre os participantes da 66ª Reunião Ordinária do Conselho Estadual de Turismo de Pernambuco (Contur – PE). Na ocasião, a Unicap foi eleita pelos conselheiros, por unanimidade, como membro fixo da recém-criada câmara técnica do Turismo Religioso do Contur-PE.
Com apoio do poder público e investimento de empresas privadas, o novo equipamento visa requalificar o Convento de São Francisco, o mais antigo do Brasil e que abriga a primeira biblioteca pública do Estado, integrando as edificações do século XVI à área verde que faz parte do terreno de quase três hectares. O projeto urbanístico, arquitetônico e paisagístico vai preservar aspectos naturais, inclusive com recuperação de passivos ambientais. O estudo de viabilidade econômica deve ficar pronto em até dois anos.
O Parque das Religiões nasce em sintonia com o conceito de justiça socioambiental, que abrange questões sociais, ambientais e espirituais. “A missão do Parque das Religiões é desenvolver reflexões sobre as experiências espirituais, estimulando a busca de significados mais profundos para esse patrimônio cultural da humanidade que são as espiritualidades, tanto religiosas como também não, ou pós-religiosas. O Parque vai ser um farol diferente em Olinda”, argumenta Sergio Ferreira, em nome do Conselho Gestor da entidade.
O Reitor da Unicap, Padre Pedro Rubens, destaca que a parceria inédita representa um momento histórico. “Esse convênio acontece em pleno Pontificado do primeiro jesuíta eleito papa, primeiro latino-americano e primeiro a escolher o nome de Francisco. Em 2022, os jesuítas comemoraram os 500 anos da conversão de Santo Inácio de Loyola e os franciscanos iniciam a celebração dos 800 anos da regra de São Francisco”.
Espaço pedagógico – Outro ponto que vale salientar é a busca da tolerância religiosa por meio do diálogo e convivência harmoniosa entre aqueles que expressam de maneiras e costumes diferentes a sua crença no sagrado. “Há 800 anos, São Francisco questionou a estratégia das Cruzadas católicas e buscou dialogar com o Sultão muçulmano Al-Malik. Há 400 anos, na China, os Jesuítas começaram um diálogo intercultural e inter-religioso visando colaborar com tudo o que leva a humanidade “para frente e para cima”.
Tais experiências motivaram a abertura desses religiosos para o estudo científico das tradições de fé e para a meditação mística sobre os dados das ciências, levando-os a acolherem e promoverem o mais amplo ecumenismo entre os grupos espirituais e filosóficos que defendem a justiça e a compaixão, o mais sincero diálogo com as pessoas que amam a vida e a liberdade”, explica o pesquisador Gilbraz Aragão, salientando a importância da educação científica sobre a religiosidade.
Esta ação é uma forma de concretizar as orientações da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, que tem unido Jesuítas e Franciscanos a educadores. O Guardião do Convento de São Francisco, Frei César, explica o que levou os Franciscanos acolherem a iniciativa do Parque. “Nada mais oportuno, nesse momento, para o Convento de São Francisco, como parte de um conjunto arquitetônico católico e na qualidade de Convento Franciscano mais antigo do Brasil, estar junto dessa iniciativa, cujo mérito transcende o físico e se conecta com o diálogo da preservação ambiental. Como parte de nossa história, abrir mais ainda o espaço para um diálogo interreligioso traduz a nossa missão religiosa de conexão com o divino.”
A proposta prevê a construção de tendas temáticas, além de espaços destinados a estudos, lojas, alimentação, auditórios, anfiteatro e biblioteca especializada com apoio de tecnologias digitais. Os ambientes serão montados de maneira a conduzir os visitantes por uma rede de trilhas que irá compor a experiência única de quem for ao local. O conjunto de tendas será planejado em harmonia com o ambiente natural e histórico com a seguinte organização:
• Introdução: linha do tempo do desenvolvimento das religiões e distribuição geográfica dos fiéis.
• Tempos e Lugares: as grandes figuras das religiões e as palavras inspiradas (tradições orais, textos sagrados, revelações e interpretações).
• Personagens Divinos e as Palavras Inspiradas: imagens, objetos, lugares sagrados, templos, rituais, orações, canções, danças e meditações.
• O que as religiões dizem sobre o mistério e a mística da vida agora, antes e depois.
• Vida Antes e Depois: mediunidade, proibições religiosas (comida, sexo, ética e política).
• A relação entre dinheiro e poder nas instituições religiosas.
• Política, Sociedade, Vida Comunitária, Organização e Ética: abordagem de conflitos, diálogos e sincretismos entre religiões.
• Conflitos, Diálogos e Sincretismos entre Religiões.
• Povos e Religiões: níveis de participação religiosa (magia popular e mística dos santos, saúde e salvação).
Para a assessora executiva do Parque, Verônica Lima, as tendas que irão compor o projeto museológico, em consonância com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), vão unir criatividade e arte, tecnologia e natureza. “E o inusitado do conteúdo é a sua abordagem temática, preferencialmente transversal, visando valorizar uma sociedade pluralista, multicultural, miscigenada e democrática”, ressaltou.
Foto do Convento de São Francisco feita por Alex Costa