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Oscar 2025: “Ainda estou aqui” – Um marco histórico para o Brasil

por Texto Divulgação

O Oscar 2025 ficará gravado na história como o ano em que o Brasil conquistou o reconhecimento definitivo no palco mais prestigiado do cinema mundial. “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, tornou-se o primeiro filme brasileiro a ser indicado à categoria de Melhor Filme, rompendo uma barreira que por décadas parecia intransponível. É uma conquista que não só destaca a excelência artística do cinema nacional, mas também redefine seu lugar no panorama global.

Dirigido com a sensibilidade característica de Salles, “Ainda Estou Aqui” é uma obra profundamente humana. O filme acompanha a trajetória de uma mulher, vivida por Fernanda Torres, que luta para reconstruir sua vida após uma tragédia que devastou sua família; o “desaparecimento” de seu marido orquestrado pela ditadura militar em nosso país. A história não é apenas sobre perda, mas sobre a coragem de permanecer, de se reinventar e de encontrar novos significados na dor e continuar lutando. A interpretação de Fernanda Torres, indicada a Melhor Atriz, é um espetáculo de nuances emocionais, capturando o desespero e a força resiliente de sua personagem. Sua performance sustenta o filme, e o elevaa um nível universal, capaz de dialogar com qualquer público.

A conquista de “Ainda Estou Aqui” também inclui indicações a Melhor Filme Internacional, reafirmando a força do Brasil em uma categoria que já contou com clássicos como “O Pagador de Promessas” e “Central do Brasil”. No entanto, a presença na categoria principal é um salto histórico, uma demonstração de que o cinema brasileiro encontrou um equilíbrio perfeito entre identidade local e apelo global.

O impacto dessa indicação reverbera além do Brasil. Reflete o momento atual da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que demonstra estar mais aberta a narrativas que avancem fronteiras geográficas e culturais. O Oscar 2025 traz Hollywood para uma celebração de um cinema verdadeiramente global, onde histórias universais podem ser contadas em qualquer idioma e a partir de qualquer perspectiva.

Os outros indicados refletem a diversidade de abordagens que caracterizam esta edição. “Emilia Pérez”, com suas 13 indicações, lidera a lista e traz uma narrativa ousada e inovadora, misturando drama, comédia e musical com uma sensibilidade europeia inconfundível. Jacques Audiard entrega uma direção que combina entretenimento necessário para as grandes bilheterias e profundidade emocional, destacando-se como um dos grandes favoritos da noite.

“O Brutalista”, com 10 indicações, é uma obra que resplandece em cada detalhe técnico. Brady Corbet cria um estudo implacável sobre ambição e o custo da genialidade, centrado na performance magistral de Adrien Brody. O filme é um triunfo visual e narrativo, consolidando-se como uma das produções mais impactantes do ano.

“Wicked”, também com 10 indicações, celebra o retorno dos grandes musicais ao Oscar. Jon M. Chu transforma o clássico da Broadway em um espetáculo cinematográfico, equilibrando magia e emoção com uma produção que impressiona tanto pela grandiosidade quanto pelo apelo emocional. Ariana Grande, indicada a Melhor Atriz Coadjuvante, surpreende, trazendo camadas inesperadas à sua personagem.

Entre os destaques técnicos, “Duna: Parte Dois” continua a expandir os limites do cinema de ficção científica. Com 5 indicações, Denis Villeneuve entrega um épico que une espetáculo visual, profundidade narrativa e uma grandiosidade que já se tornou sua marca registrada. A obra reafirma o poder de Hollywood em criar experiências cinematográficas imersivas, capazes de transportar o público a universos complexos e inesquecíveis.

Outros filmes, como “Anora” e “Uma Dor Real”, trazem histórias intimistas que dialogam diretamente com as emoções humanas, enquanto produções como “Conclave” e “A Substância” exploram temas mais densos e provocativos, cada um contribuindo com sua própria perspectiva ao mosaico que é o Oscar 2025.

O reconhecimento de “Ainda Estou Aqui” na categoria principal é um marco que não deve ser subestimado. Principalmente no momento que estamos vivendo com a polarização política e a petulância da prática de autossuficiência pelo novo governo Trump. É a prova de que o Brasil não é apenas capaz de competir, mas de ser uma força no cinema mundial, com narrativas que emocionam, provocam e permanecem na memória. Ao lado de produções grandiosas e tecnicamente impecáveis, o filme de Walter Salles representa uma vitória para histórias que priorizam o coração e a humanidade.

A cerimônia do Oscar 2025 tem tudo para ser uma celebração da diversidade e do poder transformador do cinema. Eu acredito! E, com “Ainda Estou Aqui”, o Brasil não apenas participa dessa celebração, mas também brilha como um de seus protagonistas.

Obs. (Na publicação de ontem, no portal “Viva Noite”, acertei 108 das 120 indicações possíveis. 90%, e fui um dos únicos críticos de cinema a evidenciar o crescimento de “Ainda estou aqui” a categoria principal)

Fabrício Correia é escritor, historiador, jornalista e crítico de cinema. Membro da Academia Brasileira de Cinema, responsável pela indicação do filme nacional a concorrer ao Oscar de filme internacional.

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